quarta-feira, abril 19, 2006

Sorriso



Todas as tardes, quando me dirijo para lá e passo pela mercearia de portas amarelas, olho para o seu interior em busca do teu sorriso. Na maioria dos dias, tento espreitar de forma discreta para ver se te encontro algures perdido entre a azáfama de corpos apressados com vidas agitadas e dos produtos expostos que tens para oferecer.

Num daqueles dias de tempestade, quando a chuva parece não querer cessar e o vento sopra com tal intensidade que quase nos faz levantar vôo, vi-me obrigada a refugiar-me, durante algum tempo, à porta da tua loja. Permaneci calada, fria e paralisada, talvez fruto da minha vergonha perante esta situação inesperada. Esperei, angustiada, que o tempo me deixasse partir em busca do meu destino.

Hoje, fruto de um “estranho acaso”, vi-me obrigada a entrar na tua mercearia. Adquiri algumas frutas, pois o meu estômago parecia não querer aguentar mais nada. Percebi nesse momento que, para além do encanto do teu sorriso, a forma subtil do teu corpo, e a tua voz... me fez estremecer como um ser indefeso.

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