sexta-feira, abril 28, 2006

Rumo


Hoje sonhei contigo, há meses que tal não me acontecia. Apareceste de entre uma multidão, que caminhava numa rua estreita e comprida. Caminhavam de forma apressada, com uma direcção específica mas sem olharem para a frente, como se soubessem este percurso de cor. Eu, entrara errante naquela rua e, como geralmente faço, observava os olhos destas pessoas apressadas, tentando adivinhar o seu estado de humor e desta forma, imaginar as suas vidas.

Tu olhaste para mim, estavas a uns escassos metros à minha frente. A minha expressão mudou, fiquei pálida, pois não contava que estivesses ali, naquela rua. Havia tantos meses que não te via...Virei-me de costas para ti e comecei a correr sem rumo específico, até ficar sem folêgo...


Escrito ao som de "Why?" de Lou Rhodes

quarta-feira, abril 26, 2006

Acepção

" Só quando as portas estão abertas é que o vento pode circular livremente numa casa"

in O Naufrágio de Rabindranath Tagore (livro do momento)

quinta-feira, abril 20, 2006

Missing...


"Like a soul without a mind, In a body without a heart, I'm missing every part"

quarta-feira, abril 19, 2006

Sorriso



Todas as tardes, quando me dirijo para lá e passo pela mercearia de portas amarelas, olho para o seu interior em busca do teu sorriso. Na maioria dos dias, tento espreitar de forma discreta para ver se te encontro algures perdido entre a azáfama de corpos apressados com vidas agitadas e dos produtos expostos que tens para oferecer.

Num daqueles dias de tempestade, quando a chuva parece não querer cessar e o vento sopra com tal intensidade que quase nos faz levantar vôo, vi-me obrigada a refugiar-me, durante algum tempo, à porta da tua loja. Permaneci calada, fria e paralisada, talvez fruto da minha vergonha perante esta situação inesperada. Esperei, angustiada, que o tempo me deixasse partir em busca do meu destino.

Hoje, fruto de um “estranho acaso”, vi-me obrigada a entrar na tua mercearia. Adquiri algumas frutas, pois o meu estômago parecia não querer aguentar mais nada. Percebi nesse momento que, para além do encanto do teu sorriso, a forma subtil do teu corpo, e a tua voz... me fez estremecer como um ser indefeso.

terça-feira, abril 11, 2006

A viagem


Senti-me como uma fugitiva. Não fazia sentido ficar parada, precisava continuar. Elas queriam parar, mas eu sabia que ainda havia muito mais para descobrir, percorrer caminhos incertos e talvez sombrios em busca de algo que, à partida, nos era totalmente desconhecido.

Não, não podia parar. Elas decidiram não avançar mais. Despediram-se de mim, abraçaram-me e desejaram-me uma boa viagem. Não olhei para trás porque, entretanto, escorria-me uma lágrima pela face e eu não queria dar parte fraca. Respirei fundo, olhei em frente e continuei a seguir o meu percurso, o sol entrava lentamente na terra e eu ainda tinha um longo caminho pela frente…

terça-feira, abril 04, 2006

Espera



Uma situação de vulnerabilidade levada ao extremo, faz-nos sentir desprovidos de tudo o que pensamos ter como adquirido e são nestes momentos que nos apercebemos que nada nos pertence.

O corredor é frio e cinzento. Olho em redor. A senhora do roupão cor-de-rosa chora em surdina, à sua direita, numa maca, um rapaz permanece deitado à espera do infinito. À minha esquerda sinto um olhar distante e vazio. Este pequeno espaço reúne um sentimento que é comum, apesar da nossa suposta diferença. Encontro um olhar triste e desolado em cada um deles e uma expressão infeliz. Eu tento escrever para me abstrair desta realidade.

À entrada deparei-me com várias macas que quase não me deixavam passar. É difícil deparar-me com esta realidade, como que uma exposição de velhos vulneráveis, abandonados, ao acaso do destino, de corpos que lutam contra a morte.

A senhora de roupão cor-de-rosa volta a chorar quando a enfermeira chama o seu nome. Todos olham para ela.

Quero sair daqui e sentir de novo o calor do sol e o cheiro a Primavera.

segunda-feira, abril 03, 2006

Frida Kahlo



A sensibilidade que é exposta nas telas de Frida Kahlo atinge a susceptibilidade dos que se deixam envolver no melancólico e doloroso percurso de vida da pintora. A sua pintura representa a fragilidade e as emoções que a acompanharam durante a sua vida, composta por episódios de dor e de sofrimento.

Dos seus olhos vertem lágrimas dificeis de conter, contudo a expressão do seu rosto não deixa transparecer o sofrimento causado pela sua incapacidade. No peito cravam-se os pregos da amargura, de uma vida cheia de grande sofrimento tanto a nível físico como psicológicon e que, cada vez mais, se torna dificil de suportar. A exposição da doce nudez do seu corpo expõe a fragilidade e debilidade em que se encontra.

Assim, presa na sua própria condição Frida Kahlo leva-nos a conhecer um pouco do seu mundo, através da combinação das cores, do espaço e da expressão de uma vida sentimental composta pelos dissabores do seu amargo destino.