quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Angústia


Há anos que não tinha descanso. Sonhava todas as noites. Acordava transpirada, com a pulsação a disparar e com alguma repulsa de si própria. Ainda assustada, olhava para ele e tentava aninhar-se no seu corpo em busca de algum conforto.
Durante todos estes anos nunca fora capaz de lhe contar os seus sonhos, tinha vergonha se si própria e tinha receio que os sentimentos dele mudassem. Assim, vivia sufocada pelos seus próprios medos.
Estes sentimentos afectavam-na de tal forma que aos poucos o seu olhar foi-se tornando frio e distante. Quando ele tentava encontra-lo, ela fugia, com se procurasse alguma coisa no infinito, no vazio da sua existência.
A angústia provocada pelos seus sonhos fazia com que cada vez se distanciasse da vida a dois, chegava tarde a casa, em busca que ele estivesse a dormir…
Certa noite, deixou de conseguir suportar a dor que sentia, estava sem forças para prosseguir. Saiu de casa e percorreu atormentadamente as ruas da cidade, precisava de se libertar dos seus próprios pensamentos que, no seu ponto de vista se prendiam irremediavelmente a sua própria traição. Descalça, aproximou-se e enfiou-se dentro daquela cama, daquele homem da rua, pensando ser assim a única forma de acabar e resolver o seu problema.

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